Em Alagoas existe um radar meteorológico, coisa que nem o estado vizinho mais rico tem. O mês de junho de 2010 vinha sendo um dos mais chuvosos dos últimos anos. Em vários municípios do Estado que são banhados pelo rio Mundaú há um histórico de enchentes que por si só já serviria de alerta ao menor sinal de chuva mais insistente. Matas e florestas dessa região há muito tempo vêm sendo devastadas, deixando superfície livre para as águas que caem do céu direto para o leito do rio. E continuou chovendo muito. E todas as águas foram direto pro rio – que tinha barragens. Alguém disse que viu uma delas se romper em Pernambuco. Outros viram água demais e resolveram dar vazão nas barragens seguintes. Em pouco tempo, estava formado um verdadeiro tsunami fluvial. Os últimos a saber de tudo isso parecem ter sido os moradores das cidades de União dos Palmares, São José da Lage, Santana do Mundaú, Branquinha e Rio Largo. Tarde demais. Não anunciaram a tragédia para quem ia ser vítima.
Seu Lourenço Ferreira, de Murici, já testemunhou várias cheias do rio. A maior que tinha lembrança ainda foi na década de 1960. No dia 19 de junho foi chamado pelo patrão que tinha uma bela, ampla e confortável casa em uma rua que margeia o rio Mundaú, que estava subindo mais rápido que o normal. Era noite quando chegou na residência do patrão. A água já cobria o piso. Tiveram a ideia de levar alguns móveis de mais valor para o prédio da empresa do patrão e objetos restantes iam por no andar de cima da casa. Provavelmente as águas dessa vez iam chegar a pelo menos 1 metro de altura dentro da casa. Do momento que começaram a fazer essa mudança, Seu Lourenço calcula que contou somente mais uma hora e meia. Ao fim desse prazo a casa toda estava submersa e ele em cima de uma jaqueira, de onde só saiu quase dois dias depois. Nesse tempo não soube o que tinha acontecido com sua família, vizinhos e amigos. Como ele, todos que ficaram no rastro do tsunami do Mundaú foram surpreendidos.
As imagens de enchentes que vemos nos noticiários são chocantes. Mas só dá pra ter realmente a dimensão da tragédia, quando podemos ver a devastação que só é revelada depois que as águas vão embora. As fotos abaixo fiz em duas das cidades que sofreram com a cheia do rio Mundaú – Murici e Branquinha.
Scenes from an unannouced tragedy
Alagoas has weather radar, something that not even the richest neighboring State of Pernambuco has. It had been raining quite a lot in June of 2010, the rainiest June of the latest years. There are records of floods in many towns of State of Alagoas that sit by the Mundaú River, and for this reason any heavy rain leaves everybody apprehensive. For a long time the rainforest that overlies this area has been being devastated, leaving free path to the water that fell from sky directly to the river basin. It kept raining a lot, and the river level- which had dams- started to grow. Somebody said that saw one of these dams breaking off in Pernambuco. Some others saw too much water and decided to drain the following dams. In very little time, there it was: some kind of a “fluvial tsunami”. It seems that the last ones to know about it were the citizens from the cities of União dos Palmares, São José da Lage, Santana do Mundaú, Branquinha e Rio Largo. It was too late for the victims of this unannounced tragedy.
Mr. Lourenço Ferreira, from the city of Murici, has witnessed floods many times. The greatest he had memory of was in the 1960´s. On June 19th he was called by his boss, who had a big, beautiful and comfortable house on the shore of the river, which was rising faster than the normal. It was night when he got to his boss´ house and the water had already entered the house. They decided than to take the most expensive furniture to the boss´ company, and some other stuff to the second floor of the house. They thought probably this time the water would reach one meter high inside it. Mr. Lourenço calculates that within one hour they had started moving the furniture, the house was completely under water and he found himself on the top of a tree, from where he only left two days later. During the time he had a tree as shelter he didn´t know what had happened to his family, friends or neighbors. Just like him, everyone that had been in the way of the Mundaú´s tsunami was caught by surprise.
The scenes we see in the news are shocking, but we can only have a real picture of the tragedy once the water that covered these towns drains. The photographs seen here were taken by me in two of the towns that were hit by the water- Murici and Branquinha one week after the flood.
Pode crer, Léo. Vc foi direto ao ponto e as fotos, apesar do que retratam, são maravilhosas.
Beleza de blog, já está nos meus favoritos.
Grande abraço!!!
Veja no nosso blog QUIPROCÓ, http://alagoasdiario.com.br/blog/blog7.php, o novo post CRIME ANUNCIADO “O Mundaú foi inclemente e inundou de perdas imensuráveis inúmeras pessoas. Rio a baixo, também deságua no mar a minha memória afetiva”
Um dia gratulatório, para você!!!
No +, MÚSICAEMSUAVIDA!!!
http://www.macleim.com.br
parabens Léo, ficaram otimas as fotos!
impressionante. A gente para em cada foto por alguns instantes e começa a imaginar cada história que se perdeu com a tragédia.
foda demais as fotos. HDR?
Thalita, as fotos não foram em HDR. Nem dava. Foi tudo feito nas pressas e sob chuva.
Parabéns velhooo!!! Muito bommm.
Léo e seus olhos poéticos. A visão mais humana que ví do q sofre Alagoas nos dias atuais.
Parabéns pelo mais bem cuidado relato fotográfico sobre a tragédia em Alagoas.
Léo, sensacional como todas as suas fotos.
Parabéns !!
João Kepler Braga
http://www.joaokepler.blog.br
Olá!
Muito bacanas as suas fotos! E se não fossem trágicas, seriam poéticas… Mas poesia também pode ser triste, então… Fotos bacanas, tristes e poéticas.
Parabéns!
Meu sempre Mestre… parabéns.
Seu blog sempre “foda”.
Acompanhei de perto toda essa agonia na minha terra, mas quando saí de Viçosa que vi os estragos das outra cidades, vi que lá não teve “nada”..
Fui em Rio Largo acompanhar de perto… dói na alma Léo…
Mas… vamos fazer o que está ao nosso alcance… doar!
suas fotos sobre o acontecido em alagoas são deslumbrantes, quase conseguem nos fazer esquecer que se trata de uma tragédia e não de um artista discutindo paisagens ou problemas sociais.
Mostrando mais uma vez a essência das coisas, com seu olhar diferenciado. Parabéns!
Leo: muito bom, mesmo!
A merda é ler – como lí hoje – que o MP investiga manipulação política com as doações…
Sigo seu fã.
Léo camarada, como sempre a belza de suas fotos é indescritível mesmo na tragédia.
leo, impresionantes todas y cada una de las fotos. Me gustan especialmente las del habitante de Murici, la de la vía ferrea, las vallas de madera doblada y la del retrato de un bebé entre el lodo. Magníficas, amigo.
Mestre Léo,
impressionantes:
a- a devastação;
b – a qualidade das fotos.
Você está no auge de sua sensibilidade.
Estes flagrantes não interessam aos jornais daí, não?
Ou você não se interessa em publicá-los?
Com a alma doída pelo drama do meu povo bem retratado pelo mestre,
um abraçããããão
do Marcio Canuto.
Márcio,
As fotos da desgraça das enchentes não fiz com grandes ambições. Minha intenção era dar um testemunhal visual do que ocorre por aqui, pois muitos não tem a real dimensão da devastação. Fiz questão de publicar apenas a imagens menos apelativas, evitando ao máximo retratar pessoas.
Valeu pela mensagem e visita ao blog.
Excelentes fotografias… meu destaque fica para a linha férrea retorcida em Branquinha, sensacional grafismo! Das desgraças da enchente ainda não tive coragem de conferir o que sobrou das paisagens em Rio Largo que tinha pintado no início de 2010.
Paulo de Tarso