Diante do tanto que se fala das dificuldades de Cuba, muita gente nem imagina que esse é um dos grandes destinos de turismo de lazer e praia do mundo, principalmente dos europeus. E não poderia deixar de ser. Cuba é a maior ilha do Caribe, então é de se supor que em extensão, o seu litoral é o mais generoso que o da concorrência na região. Sendo você um turista típico, é provável que procure os serviços de uma agência ou operadora de turismo e é mais provável que essas empresas irão te jogar em um dos balneários “all inclusive” que, muito mais provável ainda, deve estar localizado em Varadero.
Varadero é uma península com quase 20 km de extensão. Antes de Fidel, era área exclusiva de veraneio dos que tinham grana. Depois da revolução, a galera nativa pode ter o prazer de desfrutar de suas praias de areias brancas e mar com a cor muito particular azul-Caribe. Nota: é muito mais fácil transformar a Hortência em uma beldade no Photoshop do que tentar reproduzir no programa essa coloração numa paisagem marinha que não seja original daquela região.
Quando a economia cubana afundou na crise, Varadero voltou a ser exclusiva pra quem tem grana. O governo franqueou a área para que grandes redes hoteleiras internacionais a explorassem. Hoje brotam resorts por toda península e o vidão de conforto e fartura que seus hóspedes desfrutam é uma coisa que o cubano comum, mesmo o mais criativo, tem dificuldade de imaginar. Ainda no avião que saiu do Panamá pude detectar que a imensa maioria da turistada que estava se dirigindo para Havana iria fazer da capital cubana apenas um trampolim pra poder chegar à Ilha da Fantasia, ou melhor, Varadero.
Aquela procura tão grande de pessoas do mundo inteiro pelo balneário, é claro que deveria ter sua razão. Fomos pra Cuba sem fazer parte de excursões ou pacotes turísticos, assim, estávamos fora da classificação de turistas normais que vão para Cuba em busca de suas praias e hotéis de lazer e automaticamente não tínhamos direito às benesses desses apelativos balneários. Fiquei curioso. Laura concordou que deveríamos passar um dia, pelo menos, em uma praia fora da capital. A princípio, as opções eram Cayo Largo e Varadero. Fui numa agência de turismo estatal à cata de um pacote bate-e-volta para esses lugares. A burocrática agente turística se esforçou mais pra vender Varadero. Concordei. Até por que foi bem mais barato. Dia seguinte, seis da manhã – escuro ainda – estávamos cochilando no lobby do hotel esperando a van. Seis e meia o veículo já disparava na estrada. Laura, que dorme até em disputa de pênalti em final de copa do mundo, continuou o cochilo. Eu desisti de tentar depois de bater com a cabeça no teto da van umas três vezes. O motorista curtia a emoção de quase levantar vôo a cada passagem por quebra-molas. Duas horas e meia depois ele estava nos desovando junto com duas mexicanas e outras duas holandesas em Varadero num resort espanhol. A guia cubana, versão modesta da Zeta-Jones, deu a orientação básica: alí se come e bebe o que quiser – ou agüentar, pode-se usar todas as instalações do hotel, exceto os equipamentos náuticos que são pagos à parte, e, ao final do dia, deveríamos arrastar nossas carcaças vulcanizadas pelo sol até a recepção onde lá estariam ela e o motorista para nos levar de volta a Havana.
O excelente café-da-manhã foi animador. A quantidade e sortimento da oferta alimentícia só tinha paralelo com o número de pessoas no imenso recinto e a variedade das suas nacionalidades. Rápida passagem por um bangalô para vestir os trajes de banho e já estávamos prontos pra o ponto alto do passeio que foi o impacto de dar de cara com o famoso mar do Caribe, aquele das areias brancas e água daquela cor meio complicada que eu falei anteriormente. Passados esses instantes de contemplação, caí na real. Ali eu estava fadado ao tédio. Nasci e vivo em um estado à beira do Atlântico, numa cidade com as praias urbanas mais belas do Brasil e confesso que esse tipo de programa não há muito tempo já não me apetece. Laura foi mais esperta e estrategicamente tinha na bolsa a biografia de Tim Maia, que foi seu entretenimento nas horas que passou na espreguiçadeira na beira da praia. Depois de olhar pra o relógio e fazer as contas de quanto tempo ainda restava para o resgate até Havana, resolvi dar uma caminhada pela praia em busca de alguma foto interessante.
Do ponto de vista de quem caminha à beira-mar, Varadero é um cenário de mar que bate calmo na areia branca e uma sucessão de resorts com seus habitantes temporários. Em frente a cada um desses hotéis dezenas de turistas – em sua maioria absoluta europeus -, esturricados pelo sol do Caribe, barcos à vela, aqui e acolá um topless que não valia um alvoroço e entre o vazio de uma área de hotel e outro, discretos nativos que tentam vender conchas e estrelas do mar aos passantes. Também no espaço da praia, os animadores dos resorts tinham como missão tirar da letargia os seus hóspedes. Antes de voltamos pra o almoço no hotel, deu tempo de testemunhar uma aula de dança latina para alienígenas. O corpo de baile que compunha o mico coletivo requebrava ao som de uma música da nossa banda Calypso, com versão em espanhol. Ainda fiquei uns minutos olhando aquelas pessoas e imaginando o que deveriam ser na vida real em dias menos felizes que aquele. Não me veio à cabeça uma só ocupação na qual o cidadão não passasse 11 meses por ano esperando o mês de férias numa praia paradisíaca.
Bom, daí pra frente foi só um olhar constante pro relógio esperando a hora do resgate para Havana. Fiquei tão satisfeito com a volta pra capital, que nem notei se a estrada tinha os mesmos quebra-molas da ida e peguei no sono.
Poxa Leo, há tempo estava pra ler o caso de cuba no seu blog, felizmente hj pude ler… Muito bom!! Melhor ainda foi o seu “Nasci e vivo em um estado à beira do Atlântico, numa cidade com as praias urbanas mais belas do Brasil”
menino dei uns risos nessa materia, ou crônica de Cuba, o engraçado é que as pessoas que pedem dinheiro são aniversariantes. Agora parece que vc não gostou muito de Cuba???? E que também perdeu uma boa oportunidade de faturar uma grana extra com charutos de Cuba.
Hola Leo, las fotos son fabulosas, no comprendi bien como funciona la tecnologia TTV, pero el resultado es muito bon.
besos
Geraldine