Grande parte da obra da Revolução Socialista de Cuba foi direcionada para a juventude. Tudo foi feito para que a sua ideologia fosse perpetuada, contando principalmente com a doutrinação de cada um dos novos cubanos que nascessem sob sua tutela. A população do país hoje em dia é formada por mais de 70% de pessoas nascidas depois do embargo econômico promovido pelos Estados Unidos. Ou seja, se alimentaram todo esse tempo com o pão que os americanos amassaram. Agora o governo socialista tem pouca contrapartida a dar a uma imensa população de jovens, que não testemunhou sua luta e aos poucos vê o orgulho dessa juventude sendo minado.

O objetivo central do embargo era mudar os cubanos para este endereço

É evidente o empobrecimento do pais. Habana Vieja, bairro mais antigo da capital, pelo estado de seus prédios – de melancólica beleza, visto de cima parece que sofreu um bombardeio. Várias vezes fiz questão de me perder e achar em quase todas as suas vielas e documentar aquilo tudo com a câmera. Lá encontrei uma quantidade muito grande de gente sem nada fazer. Em momento algum senti ameaça de perigo. Mas não sei até quando ainda vai haver essa barreira tênue barreira entre a necessidade e a honestidade para os cubanos.

Fazendo os cálculos. Lá adiante, a uns 180 km, está a Florida

”Wherareyoufrom?” Essa é a pergunta mais ouvida por qualquer estrangeiro que perambule pelas ruas de Havana. Depois da trigésima vez, no meu caso, que sou paciente, você passa a não mais responder. Essa não é uma questão de mera curiosidade, mas a oportunidade que muitos cubanos têm de iniciar o contato com os gringos. Após os primeiros segundos de atenção do interlocutor, rapidamente os jineteros revelam sua real intenção. Sem perder muito tempo eles oferecem charutos, refeições em casas de família – ‘la legítima comida criolla’- ou, dependendo do seu nível maior de atenção ou carência, a companhia da sua versão feminina, as jineteras. Há tempos já se ouve falar das jineteras, e eu as imaginava umas cubanas altamente roboculosas, estilo aquelas jogadoras de vôlei que dão couro nas brasileiras. Decepção. Pelo menos as que nós vimos, ficam devendo às mocinhas pouco vistosas que prestam socorro sexual aos italianos que aportam no litoral alagoano.

Tiozinhos gringos recebem assistência turístico-afetiva de moças cubanas

A penúria que a crise econômica trouxe ao cubano não derrubou de todo o seu orgulho. Há muita vergonha de pedir ajuda ou esmola. As crianças não pedem dinheiro, mas ‘un caramelo’. Os meninos mais ousados pedem “una monedita de regalo”. Seria, digamos, um souvenir pra ele já que a moeda que os turistas usam obrigatoriamente é o peso convertible, que a população local teoricamente não tem acesso. Há outros casos criativos como o dia em que fui abraçado na rua por uma menininha de uns três anos. A mulher que estava do lado, supostamente sua mãe, me disse “Ella quiere solamente te dar un abrazo. Hoy es su cumpleaños”. Claro, era aniversário da menininha, que me deu um beijo e de volta sonhava com uma ‘monedita’ de presente. E era pra não dar? Aliás, a cidade parecia estar em festa, por que, no mesmo dia, um insistente vendedor de charutos usou a mãe como último recurso pra tentar fechar o negócio. A véia, exatamente naquela data, estava completando 80 anos e ele precisava da grana pra fazer uma presença em casa. Pra quem já passou pela infeliz situação de ter que se livrar de um vendedor fitinhas do Senhor do Bonfim em Salvador, sendo xingado de verme por não ter aceitado aquele produto inestimável, o assédio dos jineteros cubanos é uma coisa, no mínimo, folclórica. Ainda.

De uma dessas portas surgirá a qualquer momento um vendedor de charutos







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